anonimato disfarçado de solidão aka
solidão disfarçada de anonimato
quando se chega em terra estrangeira acontece um certo deslumbre. eu, que nunca fui um viajante, oriundo de uma família de não viajantes, que não conheço nem o rio de janeiro, nunca pus os pés no nordeste (não é elitismo, eu me envergonho disso) e peguei meu primeiro avião aos... 18 anos? me deslumbro um pouco mais do que a média, imagino. pensa bem, a argentina pra mim já era longe e cá estou do outro lado do atlântico. um passo de certa forma grande.
e daí que a vida toda ficou do lado de lá desse tal de oceano. meus amores, a gente que me vê com mais frequência do que os poucos que passaram a vida inteira comigo, a faculdade que eu frequentei seis anos, a rede wireless de nome sisudo e senha sem nenhum traço de familiaridade, o sofá, a televisão, minha assinatura de jornal, os expedientes, os hábitos de todo dia... é de tirar a cabeça do lugar.
foi talvez isso que tenha me dado ontem uma certa melancolia, sentimento que não poderia combinar mais com nenhum outro lugar do mundo, diga-se de passagem. no dia mais bonito e com clima mais agradável desde que aportei cá, cheguei em casa e, por mais que a convivência num espaço mínimo esteja sendo melhor que a encomenda, senti aquela falta de tudo. falta das pessoas que vão em casa, de optar não fazer nada mesmo com o mundo acontecendo lá fora.
eis que me aprumei e fui tomar uma cerveja, ainda sozinho, num bar qualquer não muito longe. começando sempre com os eternos desentendimentos rápidos com garçons, fruto do óbvio que pra eles ulula mas que não participa da minha lógica. some-se a isso um monte de gente passando, um monte de gente com histórias, vontades e individualidades, outras tantas que parecem só estar ali pra pedir cigarros. claro, ninguém me deu a menor confiança, como era de se esperar e eu acabei saindo depois de novo.
enfim, eu sei, eu sei que ainda tem um ano inteiro pra acontecer, mas ontem foi assim. e acho que é minha mãe, a aficionada por café com leite, quem diz que pra começar a ter cara de casa, precisa sair um café. talvez seja isso, mas acho pouco provável. de todo modo, vai pro topo da lista de pendências: sem cafeteira não dá mais.